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CIDADE OCUPADA
Belo Horizonte é uma cidade em que sua formação, se deu aos moldes das cidades modernas e seus ideais progressistas, constituíram-se grandes avenidas e imponentes construções, sobrepondo ao antigo arraial denominado Curral Del Rei, o que na época representava os avanços e sofisticações, condicionando seus habitantes ao padrão do homem moderno e desconsiderando a dinâmica existente.
Dentro disso, esse modelo de cidade impõe uma remodelação completa ao espaço a partir da sua racionalização. Mas, apesar do impacto, as cidades modernas não são capazes de apagar vivências e as sociabilidades anteriores desse espaço transformado. Porém, essa camada não foi suficiente para impedir que o contexto de opressão e exclusão, fortemente afirmados do decorrer de sua história e perpetuados até os dias atuais, viessem à tona em uma espaço marcado pelos contrastes. A cidade de Belo Horizonte nasce como símbolo de modernidade, contudo já surge segregada, haja vista que em seu planejamento não se previa a inclusão espacial dos trabalhadores que ali habitavam e muito menos àqueles que viriam a construir a capital.
Numa visão aérea, percebe-se claramente o que é o Centro planejado de Belo Horizonte e o que é a massa urbana margeando o núcleo da cidade, a Avenida do Contorno, nesse contexto, é a espacialização inicial da segregação. Tal avenida foi projetada com o propósito de conter o crescimento urbano central, delimitando uma área suburbana. A realidade é que a cidade de Belo Horizonte cresceu muito além dos planos de Aarão Reis, se alastrando como uma malha urbana desordenada adjacente a um miolo de Boulevares arborizados e calçadas largas. Inicialmente, pretendia-se uma cidade dividida em três partes - urbana, suburbana e rural. As duas primeiras circunscritas pelo Contorno, que o próprio nome já diz à que veio, e a última área seria responsável por suprir através da agricultura e pecuária às áreas mais centrais. Ainda com um planejamento, previa-se a expansão centro-periferia, mas algumas das primeiras áreas a serem ocupadas ocorreram fora da contorno, seguindo um fluxo inverso. O processo histórico da consolidação de BH, tem seus reflexos nesse território atual, onde o povo desde então segregado se organizou diante desse histórico negligenciamento e ocupou o entorno da cidade, à qual eles construíram e viriam a constituir suas vidas.
Ao EREA Beagá, diante desse contexto de formação, interessa a cidade formada pelas camadas negligenciadas pelo poder público, que vai desde a luta por moradia, um grande problema enfrentado desde a estruturação do projeto na cidade, até o uso do espaço público, seja para trabalho, permanência ou lazer. À nós, interessa refletir que se a cidade não for para todas e todos, ela não será pra ninguém. É um movimento de trazer à luz essa cidade informal e dar a ela a legitimidade que, de fato, possui. Abordando, então, a segregação da cidade do ponto de vista das ocupações e as narrativas que elas tecem sobre esse espaço consolidado, através das habitações, das festas, dos ambulantes, do carnaval, e do espaço comum e ocupado.
Para uma cidade ocupada, não existe limite, a rua é o lugar também do encontro e ocupar é a principal forma de acesso à vida urbana de milhares de pessoas e é sob tais iniciativas que surge um espaço físico de interminável fluxo de crescimento e de intersecção de pautas e lutas que configuram o direito à cidade.